Comunicação, Cultura e Juventude
Quando da votação do tema do congresso deste ano, muitos foram os focos sugeridos. Chegou-se, mesmo, a escolher um. Mas percebemos que um congresso como o que a INTERCOM realiza deveria ser capaz de provocar verdadeiro interesse, o mais amplo possível, junto aos estudiosos e pesquisadores da Comunicação. Esta provocação de interesse é que faz com que possamos ter múltiplas inscrições, participações variadas e envolvimento de jovens alunos, professores e pesquisadores. Tanto nos congressos regionais quanto no congresso nacional.
Daí a decisão da Diretoria de rediscutir a questão. O resultado foi o que se pode chamar de escolha ideal. Não apenas é a juventude a maior clientela das novas tecnologias de informação e de comunicação, quanto sua maior vítima. Se os atuais processos comunicacionais abriram horizontes insuspeitados para os relacionamentos, sobretudo entre os jovens, através dessas fantásticas e até há pouco inimagináveis redes sociais, também tornaram a juventude uma vítima de sua eventual manipulação.
Podemos falar de uma cultura da juventude, no sentido de valorizá-la e de reconhecê-la como uma realidade muito melhor do que outras realidades que já vivemos. Mas também devemos contestar esta responsabilidade e este fardo que se tem querido jogar sobre a juventude quanto à mudança de nossa realidade: são os jovens que devem... É a juventude que pode... E com isso pretendemos lavar as mãos.
Vivemos, também, sem dúvida, uma cultura da comunicação, mesmo que muitos não compreendam corretamente o significado do termo comunicação, que implica troca verdadeira, aquela que só pode ocorrer entre semelhantes, como já advertia Paulo Freire, baseada numa verdadeira dialogia, que ele tanto defendeu, mas de que, muitas vezes, esquecemos a real importância.
A juventude apropriou-se dos múltiplos processos de comunicação. As tecnologias de comunicação transformam até os mais velhos em verdadeiros jovens: não há nada mais emocionante do que observar um cidadão de 70 anos aprendendo a lidar com a Internet. Do mesmo modo que é fantástico saber que nossas crianças de hoje, desde a mais tenra idade, aprendem a dominar tais tecnologias, a se expressar através delas e a descobrir contactos antes inimagináveis.
Se o gregarismo é natural da humanidade, mais fortemente ainda se manifesta entre os jovens, que formam suas tribos, como anota Maffesoli, e se encontram a toda a hora para reforçar suas identidade e opções pessoais. Mas há pouco mais de trinta anos, buscar relacionamentos em outro continente, ou mesmo em outro país, era algo complicado: vai carta/vem carta, passou-se ao menos um mês... O que foi mesmo que eu escrevi e que meu distante amigo agora me contesta?
Hoje em dia, não. A gente manda um email e a resposta retorna célere, imediata, rompendo as barreiras do espaço e do tempo, aproximando tanto mais quanto a presença em redes como o Orkut, o Facebook e tantas mais nos permitem até mesmo a imagem e o som. O Skype nos coloca ao vivo, com movimento e tudo, sonho de ficção científica de histórias em quadrinhos de antigamente. E o celular nos dá a portabilidade que é ainda mais notável.
Mudou a juventude.
Mudou a cultura. Mudou a comunicação. Mudamos todos nós. É isso que este congresso pretende discutir, sob todas as alternativas, a partir de todas as nuances, buscando todas as virtualidades.
Bom congresso a todos nós, que vivemos um momento ímpar da civilização humana e precisamos garantir que ele seja o mais produtivo e o mais humanizado possível.
Antonio Hohlfeldt/Presidente da INTERCOM |